segunda-feira, 25 de maio de 2009

Quando o Cinema Corre no Sangue

Aos 45 anos, Nicolas Cage já participou em 60 diferentes produções, sendo um dos actores mais regulares de Hollywood, e detentor de vários papéis clássicos.

Nicolas Cage nasceu para o cinema. Desde o tio, o realizador d’O Padrinho, Francis Ford Coppola à tia Talia Shire (actriz n’O Padrinho), e passando pelos primos, os realizadores Roman Coppola (CQ) e Sofia Coppola (Virgens Suicídas), toda a sua família tem o cinema no sangue.

Os irmãos de Cage, Christopher Coppola e Mark “The Cope” Coppola são também realizador e locutor de rádio respectivamente.

O actor, nascido a 7 de Janeiro de 1964, que hoje é conhecido do grande público, decidiu desde muito cedo optar por uma carreira na representação, o que o fez mudar o seu nome de Nicolas Kim Coppola para Nicolas Cage, de forma a evitar crescer apenas por se agarrar ao nome do tio, criando assim, a sua própria fama. O nome Cage vem do conhecido herói da Marvel, Luke Cage, um lutador com experiência de rua.
Cage desistiu aos 17 anos da Beverly Hills High School para se dedicar a um curso de teatro, filme e televisão que o preparasse para a sua carreira.

Depois de um papel quase cortado no filme Viver Depressa, de 1982, onde contracenou com Sean Penn (Mystic River), Cage conseguiu um papel no filme do tio Coppola, Juventude Inquieta, de 1983, e um papel principal no filme Valley Girl, também desse ano, onde interpretou um rebelde que vai com uma betinha ao Baile de Finalistas.

Apesar de se tentar distanciar do tio em nome, o actor acabou por participar em vários filmes deste, como Cotton Club (1984) e Peggy Sue Casou-se (1986), que lançaram definitivamente a sua carreira.

A sua paixão pela técnica de representação do método, que consiste em incorporar o personagem e viver como ele até fora do filme, já o levou a destruir o carro telecomandado de um vendedor de rua só para construir a raiva de que precisava para interpretar a sua personagem de Cotton Club, um gangster.
Em 1987, Cage conseguiu papéis principais em dois filmes míticos da sua carreira, a mais tresloucada comédia do irmãos Coen, Arizona Júnior, e a comédia romântica Feitiço da Lua, onde contracena com Cher. Mais tarde, em 1990, David Lynch deu-lhe o papel principal no seu filme Um Coração Selvagem. Todos estes papeis receberam grandes aplausos da crítica, até finalmente Cage receber um Oscar de Melhor Actor Principal pelo filme Morrer em Las Vegas, de 1995.

Em 1996, Cage protagonizou dois filmes produzidos por Jerry Bruckheimer, os blockbusters The Rock: O Rochedo e Con Air: Fortaleza Voadora.

Cage tornou-se oficialmente um homem da acção quando contracenou com John Travolta no filme de John Woo A Outra Face, onde interpreta duas personagens opostas. Participou também em filmes tão variados como o romance Cidade dos Anjos, o thriller Olhos de Serpente, de Brian De Palma, e outro blockbuster de Bruckheimer, Sessenta Segundos, que gira à volta de um ladrão de carros.

Pelo meio, Cage entrou no mal sucedido 8MM, um filme de Joel Schumacher, que conquistou o estatuto de filme de culto, e no mórbido Por um Fio, um dos filmes menos conhecidos de Martin Scorsese. Ambos são filmes onde teve muito boas prestações.
Para o filme de 2001, O Capitão Corelli, Cage aprende a tocar bandolim de raiz, uma nova experiência que não se compara à de realizar o seu primeiro filme, Sonny, com James Franco (Homem-Aranha) no papel de um gigolô acabado de sair do exército.

A segunda e, até agora, última nomeação de Nicolas para o Oscar de Melhor Actor Principal foi para o filme Inadaptado, de 2002, onde Cage interpreta Charlie Kaufman e o seu irmão gémeo imaginário, Donald, um prémio que não ganhou.

Depois de protagonizar Amigos do Alheio, de Ridley Scott (Gladiador), Cage fez de Ben Gates em O Tesouro, uma espécie de Indiana Jones moderno. A estes dois famosos papéis seguiram-se participações em dois filmes de menor divulgação, mas de grande qualidade. O Senhor da Guerra, um satírico filme sobre um traficante de armas, e O Homem do Tempo, o drama peculiar realizado por Gore Verbinski (Piratas da Caraíbas).

No retrato trágico do ataque ao World Trade Center, realizado por Oliver Stone (Platoon), Cage interpreta um polícia que sobrevive à queda das torres ficando enterrado nos escombros durante vários dias. Desde aí, a sua carreira não tem visto os seus melhores dias, desde a participação no horrível O Escolhido ao papel em Next: Sem Alternativa.
Pelo meio salvou-se a adaptação do herói da Marvel Ghost Rider para o grande ecrã e a sequela d’O Tesouro: Livro dos Segredos. Digno de menção é o seu cameo no trailer Werewolf Women of the SS do filme Grindhouse, de Robert Rodriguez (Desperado) e Quentin Tarantino (Pulp Fiction).

Até chegar a Sinais do Tempo, Nicolas ainda participou no remake de Bangkok Dangerous, que também não teve muito sucesso.

Nicolas Cage está longe de ser consensual. As más-línguas chamam-lhe vendido. Dizem que descartou os dramas onde realmente mostra o seu valor para participar em filmes com grandes orçamentos e que pagam bem melhor – basta comparar o seu ordenado em Por um Fio (um milhão de dólares), com o seu ordenado em O Tesouro (20 milhões de dólares). No entanto, o famoso crítico de cinema Rogert Ebert é o primeiro a defendê-lo: “Ao contrário dos considerados ‘grandes actores do nosso tempo’, Nicolas Cage não tem medo de se sujar; de rastejar sob um braço ou se ficar pendurado de cabeça para baixo.”

Cage não o nega, afirmando que quer fazer todo o tipo de filmes. “Quero fazer grandes filmes que são super divertidos de ver, mas também quero fazer filmes que estimulem o espectador e que acordem consciências. Não pensem que todos os filmes serão uma montanha-russa.”

Quando o Conhecimento se Torna uma Maldição

Nicholas Cage regressa ao grande ecrã num tenso thriller de ficção-científica do realizador de Eu, Robot.

Sinais do Futuro, ou Knowing, em Inglês, é um filme fantástico e emocionante... até tentar explicar-se.

Há 50 anos atrás, os alunos de uma escola primária resolveram enterrar no chão um cápsula cheia de desenhos daquilo que achavam que ia ser o futuro. Hoje, a escola conduz uma cerimónia para entregar cada um desses desenhos às crianças que a frequentam. Enquanto vários alunos contemplam os seus desenhos, Caleb Koestler (Chandler Canterburry – O Estranho Caso de Benjamin Button) recebe um papel com números aparentemente colocados ao acaso.

Quando, por acidente, o seu pai, John Koestler (Nicolas Cage – O Tesouro) dá alguma atenção ao papel, detecta nele escrita a data de 11 de Setembro de 2001, com o número exacto de mortes que resultaram dessa tragédia. Perturbado pela descoberta, John dedica-se a constatar que os outros números também são datas catástrofes e o número de mortos que delas resultaram. O protagonista descobre ainda que três delas ainda não aconteceram. Daí até elas começarem a acontecer e até John as tentar parar, não vai muito tempo.
Para além das catástrofes, o personagem de Nicolas Cage terá de lidar com uns estranhos que perseguem o seu filho e o fazem ouvir sons indecifráveis desde que ele recebeu a lista de números. Como tudo isto também aconteceu à miúda que escreveu os números há 50 anos atrás, pai e filho procuram a sua família, na tentativa de melhor compreender os acontecimentos. São elas Diana Wayland (Rose Byrne – 28 Semanas Depois), a filha, e Abby Wayland (Lara Robinson), a neta que também ouve os estranhos.

O filme beneficia imenso por ter sido realizado por Alex Proyas. O realizador de Eu, Robot e O Corvo empresta-lhe a sua visão e mestria extraordinárias, dotando o filme de grande emoção e tensão nas cenas mais indicadas.

O que estraga um pouco a experiência é mesmo o fim, que é demasiado over the top e não consegue atingir o mínimo exigido de credibilidade.

No entanto, não é pelo fim que o filme deixa de ter qualidade em geral. Quer os grandiosos desastres, fabulosamente criados em computador, quer os momentos de grande tensão e até terror que aparecem pelo meio têm um ambiente perfeito, mostrando a vida extra que Alex Proyas dá às suas imagens.
O som ajuda claramente a ambientar o espectador, e este não vai deixar de se manter interessado pelo filme até chegar o ponto inverosímil em que tudo o que acontece é simplesmente incoerente demais para fazer sentido.

Não deixa de ser triste ver um filme que podia, de facto, ser muito bom a ficar-se pelo mediano apenas por causa dos últimos minutos, especialmente quando o guião foi criado de raiz e trabalhado por oito anos. Pedia-se mais desta história que apesar dos recorrentes temas do pai que protege o filho e do herói que tenta salvar as massas, podia ter-se destacado como um novo clássico.

“As pessoas vão ao cinema para ver algo grandioso, algo divertido, algo especial que nunca tenham visto antes.”, diz o produtor Jason Blumenthal (Em Busca da Felicidade), acrescentando: “Nós damos-lhe isso!”