quarta-feira, 1 de abril de 2009

Autocarro para o Desespero

A 12 de Junho de 2000, a população brasileira assistiu às últimas horas da vida de Sandro do Nascimento. O seu enterro foi acompanhado por apenas uma pessoa – que julgava ser sua mãe.

Inspirado pelo documentário Ônibus 174 de José Padilha (Tropa de Elite), sobre um autocarro sequestrado no Rio de Janeiro, o experiente e consagrado realizador Bruno Barreto (Dona Flor e seus Dois Maridos) criou Autocarro 174, um filme que ficciona alguns dos eventos que levaram até aquela noite fatídica.

Em entrevista à Focus, Bruno Barreto conta que o que mais o impressionou no documentário de José Padilha “foi aquela mulher; o documentário não explica porque é que ela fica obcecada com aquele menino; ela quer ser mãe dele”.

O realizador acrescenta que “naquela imagem final, quando ele está a ser enterrado, que só tem o coveiro a empurrar o caixão, a cara dela não é de quem está a enterrar um filho adoptivo, ela está a enterrar um filho verdadeiro!”. Bruno Barreto explica que foi pesquisar a história da mulher e que esta é um filme aparte. “Esta história, uma mãe que perde um filho, que desaparece, e um filho que perde a mãe e as duas vidas encontram-se... É uma história bíblica! Uma tragédia grega!”

De facto, o sequestro do autocarro não ocorre até aos minutos finais, a história de 110 minutos foca-se verdadeiramente na vida de Sandro. Enquadrando-se bem no género trágico, o filme acompanha desde a nascença Alessandro (Marcello Melo Jr.), o verdadeiro filho de Marisa (Cris Vianna), a mãe que pensou ter encontrado o seu descendente em Sandro (Michel Gomes). Pelo meio, as ironias do destino que ligam e desligam estes personagens, assim como cenas algo incómodas de relações entre menores, algo que considero um pouco escusado.

A personagem do filho verdadeiro foi uma liberdade criativa, pois nunca se encontrou o filho verdadeiro daquela mulher, mas a verdade é que esta opção dá ao filme um tom ainda mais trágico. O filme é uma autêntica viagem para o caixão, tendo uma das partes mais fortes nos créditos finais, em que se ouve o enterro.

Apesar de não atingir a força de Cidade de Deus ou Tropa de Elite, o filme não compete com a dimensão destes dois, apenas partilha o mesmo universo, sendo acima de tudo uma história sobre a dimensão humana: “o que está em primeiro plano são as emoções humanas” revela o realizador. Um filme de qualidade que ainda atrairá a atenção de muita gente.

1 comentário: